Uma boa noite de sono traz inúmeros benefícios e, quando não dormimos o tempo de que necessitamos, o nosso corpo começa a manifestar sintomas de privação de sono
Nem todas as pessoas têm necessidade de dormir o mesmo número de horas, já que o tempo de sono varia consoante a idade e também com as necessidades individuais de cada um. No entanto, uma coisa é certa: uma boa noite de sono traz inúmeros benefícios e, quando não dormimos o tempo de que necessitamos, o nosso corpo começa a manifestar sintomas de privação de sono.1
Quantos de nós já não presenciámos aquilo a que chamamos de “birras” de sono, nas crianças? De facto, alterações de comportamento, como agitação ou irritabilidade, são formas de o organismo das crianças reagir à privação de sono1. No entanto, os adultos também manifestam efeitos de síndrome do sono insuficiente1:
- Sonolência e/ou adormecimento involuntário;
- Redução de energia e consequente cansaço/fadiga;
- Redução da atenção, concentração, vigília e motivação;
- Dores musculares e descoordenação motora;
- Boca seca, alterações de apetite e gastrointestinais;
- Irritabilidade e alterações de humor (humor disfórico);
- Sensação geral de mal-estar.
Deste modo, é fulcral estarmos atentos a estes sinais, já que eles estão associados a um conjunto de consequências que, a curto ou longo prazo, podem afetar o nosso bem-estar. Vejamos algumas.
1. Sonolência
A privação de sono aumenta a pressão de sono e, consequentemente, o risco de adormecimentos curtos involuntários, sobre os quais é impossível ter controlo absoluto. Apesar da sua curta duração – entre 1 e 10 segundos – estes adormecimentos podem causar acidentes laborais ou de viação.1
Além disso, a sonolência tem efeitos diretos nas nossas capacidades de atenção, concentração, memória e raciocínio, aumentando também a fadiga. 2,3 Estas, por sua vez, podem diminuir a nossa produtividade, já que, quando estamos sonolentos, necessitamos de mais tempo para a realização das tarefas mais simples.2
2. Sono, stress e ansiedade
A relação entre o sono e o stress representa um verdadeiro círculo vicioso: enquanto períodos de maior stress podem ser a causa de dificuldades em adormecer e de um sono de menor qualidade, essas dificuldades em adormecer, por sua vez, aumentam os nossos níveis de stress. Quantas vezes não ficamos ansiosos pelo facto de não conseguirmos adormecer, preocupando-nos com as consequências que a diminuição das horas de sono vai ter no dia seguinte?4
Além disso, a falta de sono está associada à desregulação emocional, podendo tornar-nos mais irritadiços, ansiosos ou mesmo deprimidos.4
3. Sono e saúde mental
Um estudo sobre a privação de sono revelou que a propensão a pensamentos negativos ou indesejados é 50% mais elevada em quem tem privação de sono, em comparação com pessoas que passaram por uma boa noite de sono.5 Deste modo, a falta de sono poderá estar associada a um risco aumentado de problemas mentais, como a depressão, a ansiedade, entre outros.6
A saúde mental é outro dos aspetos em que a relação com o sono é bidirecional: ao mesmo tempo que as perturbações mentais dificultam o sono, a privação de sono pode desencadear o início de doenças mentais.6
4. Sono, sistema imunitário e risco de doenças
Ao interferir com o ciclo circadiano, a privação de sono pode perturbar o normal funcionamento do sistema imunitário, aumentando o risco de desenvolver certas doenças.7
A privação de sono poderá estar associada a um maior risco de doenças crónicas como obesidade, diabetes, hipertensão ou doença cardiovascular.1,7 Os dados da investigação em torno da privação crónica de sono e do aumento da prevalência de diabetes e obesidade sugerem que a relação poderá estar na forma como a falta de sono provoca alterações no mecanismo da glucose, desregulação do apetite e diminuição do gasto energético diário.8
A privação de sono poderá, a nível celular, estar relacionada com o aumento do risco de cancro, uma vez que já foi demonstrada uma relação entre a privação de sono e o encurtamento dos cromossomas (telómeros), o que poderá ter consequências na divisão celular.3
Referências
- Gomes AA. O que é a privação crónica do sono? [Internet]. Associação Portuguesa do Sono. [citado 12 de Abril de 2021]. Disponível em: https://www.apsono.com/pt/noticias/noticias-do-sono/24-noticias/noticias-do-sono/401-o-que-e-a-privacao-cronica-do-sono
- Miller M. Como o sono afeta o nosso desempenho? [Internet]. Associação Portuguesa do Sono. [citado 13 de Abril de 2021]. Disponível em: https://www.apsono.com/pt/noticias/noticias-do-sono/24-noticias/noticias-do-sono/405-como-o-sono-afeta-o-nosso-desempenho
- Culebras A, Parrino L. The Consequences of Poor Sleep [Internet]. Healthier Sleep Magazine. [citado 13 de Abril de 2021]. Disponível em: https://healthiersleepmag.com/the-consequences-of-poor-sleep/
- Bastien CH. 4 coisas que deve saber sobre sono e stress [Internet]. Associação Portuguesa do Sono. 2020 [citado 12 de Abril de 2021]. Disponível em: https://www.apsono.com/pt/noticias/noticias-do-sono/24-noticias/noticias-do-sono/450-4-coisas-que-deve-saber-sobre-sono-e-stress
- Clinical Psychological Science. Há relação entre a privação de sono e a doença mental? [Internet]. Associação Portuguesa do Sono. 2020 [citado 13 de Abril de 2021]. Disponível em: https://www.apsono.com/pt/noticias/noticias-do-sono/24-noticias/noticias-do-sono/445-ha-relacao-entre-a-privacao-de-sono-e-a-doenca-mental
- Suni E, Dimitriu A. Mental Health and Sleep [Internet]. Sleep Foundation. 2020 [citado 12 de Abril de 2021]. Disponível em: https://www.sleepfoundation.org/mental-health
- Suni E, Truong K. How Sleep Affects Immunity [Internet]. Sleep Foundation. 2018 [citado 12 de Abril de 2021]. Disponível em: https://www.sleepfoundation.org/physical-health/how-sleep-affects-immunity
- Knutson KL, Spiegel K, Penev P, Van Cauter E. The Metabolic Consequences of Sleep Deprivation. Sleep Med Rev [Internet]. Junho de 2007 [citado 13 de Abril de 2021];11(3):163–78. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1991337/