Alguns exemplos de nutrientes e outros ingredientes que podem ser encontrados em suplementos alimentares são: vitaminas, minerais, aminoácidos, ácidos gordos essenciais, fibras e vários extratos de plantas.
Ao contrário dos medicamentos, que são substâncias ou conjuntos de substâncias com propriedades preventivas ou curativas1, os suplementos alimentares são considerados, segundo a legislação portuguesa e comunitária, géneros alimentícios que, sendo constituídos como fontes concentradas de determinadas substâncias ou nutrientes, se destinam a complementar a alimentação normal. Embora, tal como os medicamentos, os suplementos alimentares sejam comercializados de forma pré-embalada e doseada, enquanto aqueles são usados para o alívio ou tratamento dos sintomas de doenças, os suplementos não têm associadas funções terapêuticas.1,2
Podendo ser de vários tipos e assumir várias formas (comprimidos, cápsulas, pastilhas ou líquidos doseados)3, os suplementos alimentares partilham um objetivo comum. Este reside no fornecimento de nutrientes a quem, por via da alimentação, não consiga consumi-los nas quantidades necessárias ao bom funcionamento do organismo.4
Alguns exemplos de nutrientes e outros ingredientes que podem ser encontrados em suplementos alimentares são: vitaminas, minerais, aminoácidos, ácidos gordos essenciais, fibras e vários extratos de plantas. De forma a garantir a segurança dos consumidores e a protegê-los de potenciais riscos de saúde, a União Europeia tem legislação que define que vitaminas, minerais e outras substâncias podem ser utilizados como ingredientes para o fabrico de suplementos alimentares.4
Apesar de terem fins diferentes, medicamentos e suplementos alimentares podem, caso o médico assim o entenda, ser utilizados de forma complementar.1 No entanto – e apesar de os suplementos alimentares poderem ser vendidos sem prescrição médica – falar com um profissional de saúde é sempre essencial antes de se decidir iniciar a toma de quaisquer suplementos já que, como explicaremos mais à frente, existem alguns possíveis riscos a eles associados. Este caso específico do complemento de medicação com suplementação é um deles, já que os suplementos podem interferir com os medicamentos.5
Os suplementos alimentares podem substituir uma alimentação equilibrada?
Começámos este artigo por apresentar a definição de suplementos alimentares, dizendo que se destinam a complementar a alimentação normal. Deste modo, tal como enfatiza o Infarmed, os suplementos, tal como o próprio nome indica, não devem, em circunstância alguma, ser utilizados como substitutos de uma dieta variada.6
Uma dieta rica em vegetais, fruta, leguminosas, proteína e gorduras saudáveis (como é o caso da dieta mediterrânica7) normalmente, tem a capacidade de fornecer todos os nutrientes essenciais para a nossa saúde e bem-estar.4 Segundo as orientações das autoridades de saúde e nutrição de todo o mundo, uma dieta saudável deve incluir mais de 40 nutrientes, divididos em seis categorias: água, hidratos de carbono, gorduras, proteínas, vitaminas e minerais.7
No entanto, hoje em dia, as alterações ao estilo de vida levam a que uma parte da população não siga uma dieta saudável, logo, não ingira as doses recomendadas de certos nutrientes (nomeadamente, de vitamina C, vitamina D, ácido fólico, cálcio, selénio e iodo).4 Além disso, existem alguns grupos com risco particular de desenvolver deficiências de certos nutrientes, que necessitam de uma atenção especial4:
Grupo populacional | Nutriente(s) |
Maiores de 50 anos | Vitamina D, Vitamina B12, Folato |
Mulheres em idade fértil | Ácido fólico, Vitamina D, Ferro |
Mulheres a amamentar | Vitamina D |
Crianças com menos de 5 anos | Vitamina A, Vitamina C, Vitamina D |
Pessoas com exposição solar insuficiente ou pele negra | Vitamina D |
Vegans | Vitamina B12, Vitamina D |
Também nestes casos, é aconselhável que a dieta seja seguida por um médico ou nutricionista, que indicará quais as modificações necessárias a fazer na dieta, bem como avaliará a necessidade de eventual suplementação alimentar.8
Quais os riscos dos suplementos alimentares?
Apesar de os suplementos alimentares terem de cumprir um conjunto de regras para poderem ser comercializados – nomeadamente a obrigatoriedade de constar no rótulo informação acerca da dose recomendada – isto não significa que sejam livres de riscos. Além disso, é importante referir que quando se afirma que um suplemento é “natural”, isso não significa que o mesmo é seguro.9 Convém ainda ressalvar que o facto de um suplemento ser adequado para uma pessoa não significa que o mesmo seja benéfico para todas as pessoas.4
Um dos riscos associados à toma de suplementos alimentares está relacionado com a dosagem. Na verdade, ingerir quantidades de nutrientes superiores àquelas de que o organismo necessita pode causar problemas.10 Estes surgem, pois, ao ingerir doses superiores às que são necessárias para o seu normal funcionamento, o organismo humano começa a esforçar-se arduamente para eliminar as quantidades extra desse nutriente7. Todavia, a maior parte das vitaminas hidrossolúveis não apresentam toxicidade aparente porque, por serem solúveis em água, são mais facilmente eliminadas do que as vitaminas lipossolúveis, que tendem a acumular-se no corpo e são eliminadas mais lentamente.
Algumas das vitaminas que, em excesso, podem provocar efeitos indesejáveis são11:
- Vitamina A (os sintomas associados ao excesso desta vitamina tomada sob a forma de suplementos alimentares incluem pressão intracraniana – ou seja, dentro do crânio – náuseas e, em casos muito extremos, coma ou até morte);
- Vitamina B3 (quando tomada sob a forma de ácido nicotínico, o excesso pode causar tensão alta, dor abdominal e danos na visão e no fígado);
- Vitamina B6 (a longo prazo, o consumo excessivo pode ter consequências ao nível neurológico, bem como causar lesões na pele, sensibilidade à luz, náuseas e azia);
- Vitamina C (diarreia, cólicas, náuseas e vómitos estão entre os sintomas de excesso de vitamina C);
- Vitamina D (tomada em excesso, a vitamina D pode conduzir a perdas de apetite e de peso, batimentos cardíacos irregulares e aumento dos níveis de cálcio no sangue que, por sua vez, pode causar danos aos órgãos);
- Vitamina E (altas doses podem interferir com a coagulação do sangue, e causar hemorragias e derrames);
- Vitamina K (o seu risco está associado à interferência com certos medicamentos, nomeadamente antibióticos).
O aparecimento, ou não, de sintomas relacionados com a toma excessiva de suplementos alimentares depende de vários fatores, nomeadamente7:
- A dosagem ingerida (muitos dos casos acima apresentados costumam acontecer apenas em situações extremas de sobredosagem);
- O tempo que o organismo leva a eliminar o excesso de substâncias;
- As propriedades químicas específicas dos ingedientes contidos no suplemento e o seu potencial de interação com outros alimentos ou substâncias;
- O peso da pessoa;
- A idade;
- Caraterísticas individuais do organismo de cada pessoa.
A interferência com outros medicamentos que a pessoa esteja a tomar é, como acima referimos, outro dos riscos associados à toma de suplementos alimentares. Na verdade, a toma combinada de medicamentos com certos suplementos – sem indicação e/ou supervisão médica – pode interferir com eficácia ou a segurança da terapêutica.10
Por fim, existem ainda riscos associados à toma de suplementos por grupos específicos, nomeadamente grávidas, mulheres a amamentar e crianças. Isto porque, muitas vezes, a segurança dos suplementos não foi devidamente testada nestes grupos específicos.12 Além disso, pessoas com hipertensão arterial, doença cardíaca e diabetes, bem como indivíduos que vão ser submetidos a intervenções cirúrgicas, devem também ter cautela em relação à toma de suplementos, não devendo fazê-lo sem aconselhamento médico.5
No entanto, o facto de existirem riscos associados à toma de suplementos alimentares não quer dizer que a sua toma não seja, de todo, aconselhada e que eles não apresentam benefícios. Devemos, por isso, procurar o aconselhamento de um profissional de saúde aquando da toma de suplementos alimentares. É essencial informarmos o médico caso comecemos a tomar um suplemento alimentar, por forma a este avaliar a compatibilidade do suplemento com a nossa medicação habitual. Os farmacêuticos e nutricionistas também são profissionais capazes de aconselhar a toma de suplementos alimentares.5
Referências
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- Food supplements [Internet]. European Food Safety Authority. [citado 9 de Fevereiro de 2021]. Disponível em: https://www.efsa.europa.eu/en/topics/topic/food-supplements
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- Hassan S, Egbuna C, Tijjani H, Ifemeje JC, Olisah MC, Patrick-Iwuanyanwu KC, et al. Dietary Supplements: Types, Health Benefits, Industry and Regulation. Em: Egbuna C, Dable Tupas G, editores. Functional Foods and Nutraceuticals: Bioactive Components, Formulations and Innovations [Internet]. Cham: Springer International Publishing; 2020 [citado 24 de Junho de 2021]. p. 23–38. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/343843720_Dietary_Supplements_Types_Health_Benefits_Industry_and_Regulation
- Dietary Supplements for Older Adults [Internet]. National Institute on Aging. [citado 24 de Junho de 2021]. Disponível em: http://www.nia.nih.gov/health/dietary-supplements-older-adults
- 5 Tips: What Consumers Need To Know About Dietary Supplements | NCCIH [Internet]. National Center for Complementary and Integrative Health. [citado 25 de Junho de 2021]. Disponível em: https://www.nccih.nih.gov/health/tips/tips-what-consumers-need-to-know-about-dietary-supplements
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